Pintura de José Malhoa
Arre
que é bruto! – Pensava Juvenal- acerca do seu tio António que o havia chamado
aos berros lá do fundo do quintal; Juvenal era distraído, passava o tempo a
pensar como havia de sair dali, tamanho era o seu sofrimento. Havia dez anos
que seus pais tinham partido para o além (deus os tenha em descanso), e
sinceramente estava farto dos berros do tio; até a Alzira lhe dizia:
-Vai-te
embora homem! Tens bom corpo, habilidade, o que esperas deste traste que te
explora vai para uma década?
Destarte,
Juvenal foi pensando na coisa com algum cuidado, não fosse o velho desconfiar.
Um dia sumia-se no mundo e ia ser feliz. Os seus pais não o tinham criado para
ser criado de lavoura do marido da tia; estava decidido! Quando o velho lhe
pagasse a jorna da semana, ia meter pernas a caminho lá para os lados da vila
onde muito trabalho havia, segundo ouvira dizer ao Manel da Fonte que vivia
amantizado com uma moçoila daquelas bandas. Estava agastado de tanto ouvir
«acarreta palha para os cavalos Juvenal», «ajuda a tua tia com a lenha
Juvenal», «dá de beber às ovelhas Juvenal» e, ir à vila beber uns copos com os
amigos e namoriscar as moçoilas nada. Para bruto, bruto e meio. De hoje não
passava. Meteu pernas direito a casa com a intenção de meter os seus pertences num
saco de pano e virar costas a tudo. Moço de estrebaria era, moço de estrebaria
não haveria de ser mais tempo. Antes ir para a guerra defender a França.
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