(...)O
vento já soprava com intensidade e as primeiras pingas caíram-lhe no rosto,
frias e grossa. Chuva de trovoada era sempre forte. Avistou a frondosa árvore
centenária e ficou mais descansada. Podiam abrigar-se ali. Manuel Afonso entrou
debaixo da árvore antes dela e saltou para o chão, prendendo o cavalo a um
galho. Isabel entrou finalmente na copa da árvore e Manuel Afonso agarrou as
rédeas do “ Arisco” ajudando-a a descer. E, quando Isabel se preparava para
saltar para o solo pejado de folhas secas a voarem pelo efeito do vento, ele
estendeu-lhe os braços e ela nem pensou no que viria a seguir. Colocou-lhe as
mãos nos ombros musculosos e duros e ele agarrou-a pela cintura, deixando-a
deslizar mas sempre a roçar no seu corpo. Que tranquilidade sentiu naquele
momento. Aquele homem era um porto de abrigo seguro, mas também era um mar de
excitação e, quando deslizava pelo seu peito, sentiu na altura da cintura, uma
protuberância erecta que identificou perfeitamente. Ele estava excitado ao
ponto de não conseguir disfarçar a intumescência no meio das calças justas.
Como a
desejava! Deixou-se ficar colado a ela mais do que seria necessário e numa
guerra consigo próprio, largou-a finalmente dizendo:
- Vou
prender o “ Arisco” ao lado do “ Trovão”. – e tirou-lhe as rédeas da mão com brusquidão,
como se estivesse zangado.
Encheu uma mão de favas - que tirou do bolso
do casaco - e deu aos animais que ficaram a mastigar com ruido.
Isabel
não sabia o que pensar dele. Amável, sedutor e cavalheiro num momento e uma
besta no outro a seguir. Talvez fosse um homem magoado com a vida, afinal nada
sabia sobre ele. Já passara dos trinta anos e ainda estava solteiro.
- Esta
azinheira tem mais de trezentos anos.
Manuel olhou para cima para avaliar a
capacidade da árvore os proteger da chuva.
– Venha, vamos para o troço da árvore.
Sentamo-nos ali. – e apontou para uma raiz grossa saliente da terra que podia
servir de banco.
Retirou
uma manta do alforge que tinha prendido
à cela e estendeu-a no chão em cima da velha raiz.
-
Venha sente-se. – e puxou-a pela mão para perto de si. Aquele contacto com a
mão dele foi a maior ousadia que cometera com um homem. Isabel era muito afoita
na língua mas virgem em tudo.
Sentou-se
a seu lado, consciente que era a primeira vez que estavam sós e em
circunstâncias bem estranhas. Uma rabanada de vento trouxe finalmente a carga
de água maior e o céu parecia despejar-se de uma só vez na terra e, agora era a
valer: chuva, vento e frio.(...)
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