«Laura tinha instruções para
procurar um motorista com o seu nome escrito numa placa de cartão e
encaminhou-se para a saída. Assim que cruzou a enorme porta de vidro sentiu de
imediato o calor e eram apenas quatro e trinta da manhã.
Verifica se algum dos cartões -
que os homens encostados às grades dos separadores de trânsito tinham nas mãos -
tinha o seu nome escrito e encontra-o. Lá estava ele. O seu motorista. Já se
sentia mais segura.
Mrs
Laura Mateus – Portugal.
Dirigiu-se ao homem, talvez na
casa dos trinta que o segurava e teve uma surpresa ao olhar para ele. Rosto
forte, quadrado, olhos castanhos profundos, um sorriso encantador assim que a
viu enfim, podia dizer que era um executivo qualquer. Tinha ar disso. Os
motoristas seriam todos assim, ou só este é que tinha um aspecto tão bonito?
Que país curioso!
Laura estendeu-lhe a mão e ele
apertou-lha com firmeza dizendo num inglês sem mácula, enquanto a olhava
intensamente.
- Seja bem-vinda miss Laura.
Com muito profissionalismo e
delicadeza fez um gesto para ela lhe passar a mala.
Laura não se fez de rogada e
imediatamente lhe entregou a enorme sansonite,
onde carregava - literalmente - todos os seus objectos e roupas pessoais.
Mas
porque é que eu cumprimentei o motorista com um aperto de mão? Ele não recusou…
Ninguém cumprimenta motoristas de táxi com um aperto de mão. Estou mesmo
apalermada.
Mas, o que não deixou escapar
da sua mente foi a impressão que o homem lhe causou assim que o viu. Charmoso e
bem vestido, alto- mas não excessivamente- ligeiramente moreno, de olhos castanhos-escuros
e com um ar sério de profissional. Mais parecia um CEO de uma empresa qualquer
do que um motorista de táxi. Era de certeza um motorista com muita classe. Aventurado
país! Assim já estava melhor. Ia passar a andar muito de táxi quase de certeza-
pensou com malicia enquanto emitia um sorriso velado para si própria.
Ele faz-lhe sinal para o
acompanhar e dirige-se ao carro parado mais à frente. À passagem deles as cabeças
dos homens que falam alto, em árabe, fazendo uma algazarra, voltam-se todos
para ela, causando estranheza e medo a Laura; a curiosidade deles devia-se ao
facto de ela ir acompanhada de um homem e de ser tão bonita. Ela é que não
sabia isso e interpretou o facto à luz dos conhecimentos acerca do mundo árabe
a as relações com as mulheres. Chegaram ao carro e para seu espanto o veículo
abre-se sozinho quando ele se aproxima da porta. Tudo por aqui é excêntrico.
O táxi é um lexus cinzento! Observou admirada. Sempre tivera bons carros,
porque felizmente a sua família tinha possibilidade de os comprar, mas as suas
escolhas não iam além das marcas mais conhecidas como Peugeot, Volkswagen, nem
por sombras pensaria num carro destes. Bolas! Um Lexus é um Lexus!
Deixam os motoristas conduzirem carros destes?
Questiona-se enquanto ele coloca a mala na bagageira e abre-lhe a porta de trás
como um perfeito cavalheiro. Laura entra no carro e afunda-se no couro macio
bege e castanho, sentindo-se uma princesa dentro da carruagem de luxo. O
motorista arranca com o carro, primeiro suavemente e depois mais acelerado à
medida que sai do parque subterrâneo. Laura observa a roupa dele. Parece um
fato caro, talvez Armani, mas deve estar
enganada. Por mais excêntrico que o país seja seria demais um motorista usar um
fato de centenas de dólares. Ele acelera pela enorme avenida com quatro faixas
de rodagem de ambos os lados com a indicação de Abu Dhabi, outro emirado, até
lá são apenas algumas centenas de quilómetros de estrada pelo deserto para quem
segue essa direcção. O sol começa a surgir no horizonte e empresta à cidade um
ar misterioso. Pelo espelho retrovisor os olhares cruzam-se e ele sorri-lhe.
Laura devolve o sorriso timidamente e pergunta-se porque é que está a reagir
desta forma com um simples motorista. Nunca foi snob ou pretensiosa ao ponto de desmerecer outras profissões, mas
este motorista era estranho. »
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