Quando
pensei em escrever um romance (em 2013), tomei uma série de decisões entre as quais
aprender a utilizar as ferramentas básicas, ou seja, algumas técnicas de escrita, porque
sempre me pareceu que só as regras de gramática não chegavam e escrever
livremente sem qualquer plano, poderia ser arriscado para uma principiante como eu.
Bom, confesso-vos que apesar de ter adquirido algumas noções de como começar a
tarefa, não tinha noção das dificuldades que se iam apresentar a partir do
momento em que escrevesse a primeira página.
Mantive-me
no campo das indecisões durante muito tempo, reescrevi o começo do livro várias
vezes e, cada vez que abria o computador, mudava o inicio do romance.
O meu primeiro romance foi Gabrielle, que hoje
está publicado em dois livros Anna e Gabrielle e recentemente coligi os dois
num volume com o mesmo nome.
Apesar de ter um roteiro mental, previamente
definido, porque o livro é baseado em acontecimentos reais, não me podia
limitar a escrever os acontecimentos sem serem trabalhados antes. Foi uma
tarefa árdua que passou por muitos momentos de desespero e de obscuridade. Vou para
onde a seguir? Estou a ir bem? Será que o leitor vai entender o que estou a
escrever? Será que este assunto não irá chocar demasiado o leitor?
Foi
com estas interrogações que nasceu o meu roteiro individual, uma espécie de
fórmula que utilizo em quase todos os livros que escrevi, depois de Gabrielle, e que fui construindo ao longo de muito estudo sobre escrita criativa. Ele
descreve cada uma das etapas que eu sigo para concluir o livro e, é a minha
modesta contribuição para partilhar com os autores independentes que estejam a começar.
Neste
artigo, deixarei aqui uma visão geral do meu processo para escrever
romances, ao qual pode sempre acrescentar o seu cunho pessoal, tal como eu fiz, porque a arte de misturar palavras e construir histórias é pessoal. Ninguém lhe pode ensinar a fazê-lo. É uma arte que não dispensa muito trabalho e dedicação, como qualquer outra. Por mais habilidoso que seja, se não praticar não evolui.
Desta vez não vamos falar de técnicas como por
exemplo «mostrar vs dizer», gramática, ponto de vista etc…. O que vou deixar
aqui é como eu transformo uma ideia num romance. Importa dizer que por vezes as
ideias que tenho – e tenho mais de uma dezena anotada no meu caderno –, nem
todas vão dar boas histórias. Recentemente abandonei um livro por ter chegado à
conclusão que a história pouco convincente, talvez noutra altura lhe volte a
pegar e o consiga escrever. Já aqui disse que anoto as ideias que vou colhendo no dia-a-dia
num caderninho A5 que transporto sempre comigo.
Então,
o que eu faço depois de ter a ideia é um primeiro esboço, onde constam estas
etapas:
- Uma
breve sinopse – a primeira
- Uma sinopse ampliada – mais desenvolvida
- Decisão
– quero avançar com a história ou não.
- Desenvolvimento
dos personagens
- Esquema
do romance – em traços gerais
- Pontos
de vista do personagem
- Histórias
secundárias – se existirem
O que é um PLOT?
É um conjunto de acontecimentos interligados entre si por causas e efeitos e que dizem respeito a um protagonista que quer alcançar desesperadamente um objectivo, livrar-se de algo, e que não consegue por via de obstáculos internos ou externos. Um PLOT simples tem que obedecer a estes cinco pontos.
Pode dividir o seu Plot (guião) em vários passos.
Mas, o livro depende dos personagens. São eles quem dão vida à história, por isso é conveniente conhecê-los bem e muito cedo. Embora possa sempre fazer alterações ao carácter dos personagens, não é prático fazê-lo durante a escrita. Certifique-se que sabe quem eles são antes de começar a escrever.
Faça anotações sobre todos os personagens principais da sua história. Não se preocupe em aprofundar muito nesta fase, apenas precisa de um esboço da personalidade dos seus protagonistas, na segunda fase desenvolve mais a personalidade dos personagens.
Agora
vamos sistematizar a informação que precisa para começar a escrever. Assegure-se que possui:
UMA IDEIA para uma
história, mas, antes que comece a escrever a sua história assegure-se que
existem:
UM PROTAGONISTA
UM OBJECTIVO – o que é que o protagonista quer/deseja
UM LOCAL
UM ANTAGONISTA
UM PROBLEMA/dilema
Aqui
está um exemplo:
Um
protagonista - Marta
Um
objectivo – vender as terras que os pais lhe deixaram
Um
local/tempo – Covilhã 2016
Um
antagonista - Daniel
Um
problema – Daniel é obcecado por Marta desde a adolescência.
Coloque
todas essas ideias numa única frase, como esta: Quando Marta chega à Covilhã,
quinze anos depois de partir, com o objectivo de se desfazer da herança dos pais
- as malditas terras - depara-se com Daniel, como se o tempo não tivesse
passado.
PONTOS DE VIRAGEM
Há
um conjunto de pontos de viragem na história que convém contemplar
no seu livro, caso contrário corre o risco de a história não ter ritmo e tornar-se monótona.
Cada
um desses pontos pode ser interpretado de um número infinito de formas, por
isso não se preocupe que sua história será como todas as outras, caso consiga
estabelecer um fio condutor. Uma vez que tenha esses pontos esquematizados,
refiro-me aos pontos de viragem, pode passar a um esquema mais
detalhado em que define o número de páginas para cada ponto de viragem.
Se a
sua história tiver quatro a cinco pontos de viragem, terá entre 200 a 250 páginas
e não precisa de ter mais. Para isso é conveniente que crie um PLOT.
Pode
dividir o seu Plot (guião) em vários passos.
Mas,
o livro depende dos personagens. São eles quem dão vida à história, por isso
é conveniente conhecê-los bem e muito cedo. Embora possa sempre fazer alterações ao carácter dos personagens, não é prático fazê-lo durante a escrita. Certifique-se que sabe quem eles são antes de começar a escrever.
Faça anotações sobre todos os
personagens principais da sua história. Não se preocupe em aprofundar muito
nesta fase, apenas precisa de um esboço da personalidade dos seus protagonistas, na segunda fase desenvolve mais a personalidade dos personagens.
Faço sempre uma lista para todos os personagens, antes de começar a
escrever, com estas características:
- Principais características do personagem
- O que o move ou impele para a acção
- Resumo do seu papel na história
Antes
de começar a escrever, certifico-me que o meu personagem tem um OBJECTIVO; está
tentando alcançar esse objectivo mas encontra um CONFLITO; os problemas aumentam
e terminam num ACONTECIMENTO COM IMPACTO; os personagens têm uma reacção emocional ao
acontecimento; são confrontados com um DILEMA; os personagens tomam uma
DECISÃO; o que significa que o personagem tem um novo OBJECTIVO; o personagem resolve o dilema.
Se conseguir estabelecer um esquema como este – e não
precisa de dar a mesma importância/peso a todas as etapas- então a sua história
está pronta para começar. Uma história de aventuras dará um ênfase maior ao
acontecimento, uma história romântica ao conflito e uma história filosófica
fará o oposto. Vamos agora desenvolver as personagens.
Considere
fazer uma biografia dos seus personagens com aspectos fundamentais para o
livro, de etapas da infância, adolescência e idade adulta ou actual, em que
conste uma lista para cada um de acontecimentos marcantes que possa utilizar
mais tarde.
Faça uma lista dos LOCAIS a utilizar/descrever no livro para que possa usar
mais tarde. A variância dos ambientes podem ter influência no humor dos
personagens, por exemplo o outono incita à reflexão, à solidão, à introspecção,
etc…etc…
Decida
qual o PONTO DE VISTA que vai utilizar (primeira pessoa, segunda pessoa,
terceira pessoa) e volte a verificar as suas listas e se existe alguma incongruência
nos esquemas que fez. É mais fácil observar que está alguma coisa mal agora que
ainda não começou a escrever do que quando tiver trinta mil ou cinquenta mil
palavras escritas.
Se
acha que ajuda, imprima algumas fotos de ambientes ( casas, paisagens etc) e inspire-se nelas quando
estiver a escrever.
Nesta
altura deverá ter todo o material compilado e um PLOT bastante avançado do seu
livro, então defina os capítulos com as cenas principais desde o princípio ao
fim do livro, tendo sempre por base o PLOT inicial.
Depois
desta etapa está pronto para escrever o primeiro rascunho do seu livro. Mãos à
obra!
Acabou
o primeiro rascunho? Tem entre 40.000 a 100.000 palavras? Passe para a segunda
fase.
Segundo
rascunho – reescreva o livro. Esta fase é importante para aprimorar a escrita,
ver incongruências, alterar factos…etc. Melhore a sua história.
Terceiro
rascunho – Depois de ter aguardado algum tempo (de dias a semanas) entre estas
fases, volte a reescrever o seu texto. Vai ficar surpreendido com a quantidade
de falhas na gramática que encontra, pequenas coisas – mas que fazem diferença
na qualidade do texto – como vírgulas mal colocadas, palavras no sítio errado
entre outras falhas, que convém emendar antes da última fase.
Já
finalizou a revisão do terceiro rascunho do seu livro? Então imprima uma cópia
e peça a alguém - leitor Beta, ou revisor – que lhe faça a revisão final do livro ( com lápis assinale todos os erros de gramática, verifique incongruências na trama...) e sugira alterações. o ponto de vista do leitor é importantíssimo!
Faça
uma última leitura depois da revisão, emende as falhas assinaladas pelo
revisor, faça as alterações sugeridas e, finalmente acabou o seu livro.
Quanto
tempo passou neste processo? Entre quatro meses a um ano.
Próxima
etapa? Publicar.
Até
ao próximo post.