Quem escreve
sabe que cada escritor o faz de forma diferente. Os recursos internos que cada
um usa para criar são completamente díspares. Se perguntar a dez escritores
como fazem para criar a história, obterá provavelmente alguns consensos mas
ainda assim, bastantes diferenças. Sentar-se ao computador e escrever – ou à
mão – e olhar para uma página em branco pode ser aterrador mas para também um
desafio e um prazer enorme. Para mim tornou-se em algo do qual já não
prescindo. Todos os dias escrevo nem que sejam apenas algumas frases.
Para criar
preciso de silêncio e muito raramente uso música – apenas quando tenho alguém
por perto para servir como barreira – e é pela manhã que as ideias fluem com
mais facilidade. Há quem funcione precisamente ao contrário: escrevem de noite
ou de tarde. Portanto são processos individuais que não obedecem a receitas,
tal como na psicanálise, cada caso é um caso.
Depois de
delinear o enredo, pensar nas personagens que vou envolver na história e fazer
as respectivas biografias e características físicas e psicológicas, esquematizo
os capítulos um a um. Só depois deste processo concluído – o que consome sempre
mais tempo que escrever – é que passo à escrita do livro o que em geral não
demora mais de dois meses.
Terminado um
primeiro esboço do livro deixo-o repousar algumas semanas enquanto penso noutra
história e só depois faço uma segunda revisão acrescentando ou retirando
frases, factos, aspectos dos personagens ou excesso de palavras para descrever
uma cena ou cenário. O processo repete-se e depois de algum tempo em que me distancio
o suficiente do livro, volto a rever tudo. Concluída a segunda revisão imprimo
o romance e peço a um leitor Beta que o leia, assinale erros e buracos na
história e dê a sua opinião. Este processo que passei a utilizar recentemente
facilita muito a tarefa de revisão, difícil é encontrar alguém que esteja
disposto a isso e seja de confiança. Podemos sempre usar os comentários da
plataforma da Wattpad, mas também é um processo complicado. Quem não tem tempo
para acompanhar as histórias dos outros leitores acaba por também não ter
muitos leitores, já que funciona – e muito bem – por troca de leituras.
Escrevo em
qualquer lado tal como faço com a leitura: na secretária, dentro do carro numa
paisagem campestre – escrevi alguns capítulos de “Gabrielle” na serra da
Estrela em Portugal e em Font Romeu na França enquanto a família esquiava-, no
avião ou na rua quando me lembro de algo e anoto num bloco que me acompanha
sempre.
Se você é
daqueles escritores que fica stressado se não escrever todos os dias, porque
acha que não está a criar nada, não fique. Mesmo se não estiver a escrever está
certamente a pensar como vai organizar o seu próximo livro ou até como vai
escrever o próximo capitulo e, tudo isso faz parte do processo criativo. Basta estar
a pensar para estar a criar.
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