Hoje vamos falar de vilões. Sou fascinada por vilões, dão
vida e sabor aos livros. Quando li FLORES DA TEMPESTADE, de Laura Kinsale
encontrei uma fileira de vilões que não estava à espera.
Os antagonistas,
também são vários, uma família inteira, o que torna o livro muito interessante,
para além de que o próprio protagonista aparece no início como um individuo
perverso e sem escrúpulos. Este é um bom exemplo de um livro recheado de
personagens más, que dão vida ao livro.
Ora se um livro for apenas água e açúcar, perde o interesse rapidamente – pelo menos para mim
- , gosto de ler grandes narrativas em que os protagonistas enfrentem muitos
obstáculos. É óbvio que não é fácil inserir tanto vilão na estória e, ainda
assim manter o balanço da estória.
Existe coisa mais assustadora do que um vilão numa história?
E quando imagina que ele pode saltar das páginas do livro e andar livremente
entre nós. Já ouviu falar em psicopatas domésticos? São um outro género de
psicopatas que não tem necessidade de matar, mas que ao nível social e
psicológico causam muitos estragos nas vítimas, não lhe restando alternativa
senão fugirem deles.
Há uns anos escrevi
“O Homem do Deserto” com um psicopata como vilão e depressa o livro recebeu
boas críticas dos leitores.
Existem vilões em todas as formas e tamanhos. O seu vilão
pode ser um adolescente que inflige dor aos colegas de escola, chegando a
torturá-los. Exemplo horrível, eu sei! Ou um simpático velhinho que se esconde
atrás da sua figura frágil, mas no momento oportuno, mata sem piedade e sem
motivo.
Não confunda por favor, um vilão com um antagonista. O vilão
é retratado como alguém que tentará tudo para deter o protagonista ou tornar a
sua vida bastante complicada. Geralmente, não possui a mesma profundidade
psicológica do antagonista, porque, para o escritor, é mais interessante
escondê-lo nas sombras, mostrar apenas as suas características negativas e justificá-las
como o seu passado, não com as suas acções actuais. Desumanizá-lo pode servir
para exaltar as características do herói.
O vilão é um antagonista, porque se opõe ao protagonista,
porém, um antagonista não é um vilão. Confuso? Bem, existem alguns estereótipos
que ajudam a entender melhor essa relação. Por exemplo, o antagonista condiz
com o estereótipo do anti-vilão e do vilão trágico, além de outros.
O seu vilão pode ser humano ou abstracto. Vilões humanos são
personagens que o herói deve derrotar para ganhar um final feliz. Por outro
lado, vilões abstractos são algo, ao invés de alguém, que seu herói deve
superar para alcançar seu sucesso.
O vilão e o
antagonista opõem-se ao protagonista, que costuma ser o herói da história e, o
objectivo da sua existência na história é gerarem conflito, para que o leitor
se mantenha interessado na história. Porém, o antagonista possui características
redentoras, redime-se no final da história, enquanto o vilão terá um fim
triste.
Sobre características redentoras
Um bom antagonista possui a sua própria história, um passado
conturbado que explique as suas acções no presente. Além disso, ele não precisa
ser completamente malvado e destituído de moral; ele pode ser um personagem
interessante, pelo qual o leitor sentirá simpatia. Ele pode sentir culpa por
suas acções, pode ser gentil a um determinado personagem, pode ser inteligente
e engraçado, ter falhas, mas também ter qualidades. E, no final da sua
história, ele pode ou não redimir-se pelo que causou, mas sem causar mais dano
ao protagonista.
O vilão pode ser racional ou emocional. Alguns vilões são frios,
não sentem culpa pelos seus crimes. Simplesmente querem ganhar. Os vilões racionais
matam ou prejudicam calculadamente, sem razão aparente e sem remorso, são os
chamados psicopatas. Os vilões emocionais são motivados a prejudicar os outros
por causa do sofrimento do passado e ainda tem uma réstia de consciência.
Então crie o seu vilão desta forma
1 . Mantenha-se fiel ao seu personagem e ao tipo de
vilão que pensou.
2. Tenha um plano para o personagem! Não tem sempre que o
cumprir, isso depende do personagem, mas mantenha o foco no personagem senão o
enredo vai sofrer.
3. Não tenha medo de ser mau. É divertido!
4. A tortura é sempre um bom "talento" para se
ter. Imagine um vilão a torturar uma vítima. Isso não faz de si uma pessoa má.
Já imaginou como Stephen King constrói as personagens? Dessa forma.
5. Não tenha medo dos estereótipos, os vilões são clichê,
mas a execução do clichê é o que importa. Pegue no cliché e torne-o seu,
formate-o e altere-o para as suas necessidades e desejos.
6. Misture e combine personagens – mantenha as pessoas no
suspense e a tentar adivinhar quem é quem e, ao mesmo tempo mantenha o enredo
interessante para si. Não fique sempre preso à forma, experimente todos os
tipos de vilões!
7. Não tenha medo deles, abrace sua vilania e separe-se de
si mesmo para criar a personagem. É como encarnar um personagem no cinema.
8. Aprecie-os como personagens e não tente colori-los com características boas. Seja mau, e seja bom em ser mau.
9. A prática faz a perfeição! Pratique.
10. Não desista! Representar um bom vilão é difícil, mas
quanto melhor o vilão, melhor o herói, e mais interessante o livro.