(...)Sara olhou para a cicatriz quase
invisível, graças ao óleo de rosa mosqueta, e tapou-a com o body de renda
preta. Era a sua primeira saída depois daquela noite em que tinha recorrido às
urgências e escapara por milagre a uma denuncia de violência doméstica. A noite em que o industrial alemão lhe tinha infligido um corte com
uma adaga minúscula na nádega, para que ela jamais o esquecesse, dissera-lhe
num inglês com forte sotaque, estava ainda muito presente no seu espírito. Sara admitia que se enganara na escolha daquela noite. O
homem era um estupor sádico e de sedutor não tinha absolutamente nada.
Olhou-se ao espelho e estava tudo
certo e no sítio. Cabelo em ondas largas a cair-lhe pelas costas, boca e olhos
pintados magistralmente, e umas pernas longas, torneadas a terminarem nos sapatos
pretos de salto alto. Ninguém diria que era a tímida Sara Ataíde, designer,
especialista em capas de livros, para uma das maiores editoras do país.
Sorriu para a sua imagem refletida no
espelho.
Agarrou a bolsa pequena e as chaves do carro e desceu pelo elevador até à garagem onde estava o seu Audi A6, aquele que só usava
nas saídas nocturnas quando se transformava numa mulher sofisticada capaz de
arrasar na noite com qualquer homem menos precavido e carente de amor e tornar-se
numa depravada, sem pudor, que, para além do prazer que obtinha com os homens,
ainda se fazia pagar muito bem.(...)
Deixo-vos em excerto do próximo livro. Gostava que deixassem opiniões, sugestões e todos os comentários construtivos que quiserem.
O que vos faz pensar este pequeno texto?
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