Capítulo 15 (excerto)
Oregon 1964
Quando
Mary a chamou à biblioteca sabia que o assunto era sério. Os assuntos
importantes eram tratados naquela divisão. Não lhe apetecia ouvir sermões mas
não lhe restava alternativa. Pensou seja
o que Deus quiser e abriu a porta. Mary lá estava sentada na poltrona azul
com ar sério. Como ela estava envelhecida. Há muito que não reparava nela e
fazia o possível para que não a vissem durante o dia e, de noite fechava-se à
chave e mesmo tendo pesadelos não deixava ninguém entrar no seu quarto.
Sim Mary, não volto a desaparecer durante todo
o dia. Sim Mary! Sei que ficas preocupada. Sim Mary! Sei que sou uma neta para
ti. Sim Mary! Já me disseste inúmeras vezes que criaste o meu pai e que é como
um filho para ti…Sim Mary! Um pai não se trata assim, mas tu não sabes o que
ele me fez…nem vais saber…prefiro morrer.
- Chega
aqui filha. Quero falar contigo.
Gaby
sentou-se e recatadamente virou as longas pernas de lado, unindo-as para que
não ficasse visível mais do que o necessário. Nos últimos tempos baixou muito a
bainha dos vestidos – ela própria o fez-, e começou a vestir na maioria das
vezes calças e blusas largas. Disfarçar as generosas formas femininas que os
seus treze anos lhe ofereceram era o seu propósito. Sentou-se pacientemente
junto de Mary, a única pessoa que não a tinha traído dentro daquela casa, a
única não, não estava a ser justa com o velho índio. Nos últimos três anos
tinha sido ele o aliado nas suas fugas e desaparecimentos misteriosos.
- Sabes
que estou a ficar muito velha Gaby, tenho setenta e seis anos e sinto-me
cansada e, o que mais preocupa é ver-te nesse sofrimento. De uma vez por todas,
filha, diz-me o que se passa contigo! Mudaste muito nos últimos três anos e, eu
não sou cega. És uma jovem linda e trajas como se fosses um homem. Para além
disso que eu considero ser um atentado à tua beleza, desapareces dias inteiros
quando não estás na escola. Gaby! Algo de muito grave se passa contigo! Diz-me
filha! Confia em mim.- suplicou de mãos postas .
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